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POMEME POEME

 

ANTES DE FALARMOS DO MESMO É PRECISO ESCLARECERMOS O QUE É ISSO A QUE CHAMAMOS O MESMO. Em primeiro lugar: o mesmo é o mesmo! O mesmo é o mesmo em relação a si próprio, porque o mesmo é o que se mantém igual a si: implica um antes e um depois ao longo qual o mesmo não se altera. Mas se o mesmo é o mesmo em relação a si próprio, e o próprio é o que é de si e não de outro, então o próprio é, antes de mais, um em si que é para si porque não para outro. O próprio é o não outro. Ou seja, o mesmo, para ser o mesmo, é o mesmo em relação a si porque é para si em relação ao resto. E se o mesmo é o mesmo porque se mantém igual a si, sendo esse igual a si em relação ao resto para além de si, o resto, não sendo o mesmo, será todo o outro que em relação a um antes se mostra diferente. Ou seja, esse resto implica um antes e um depois ao longo do qual o resto se altera para que se possa dizer que algo em relação ao resto é o mesmo. O mesmo é o que se mantém igual quando e porque o resto se altera. O mesmo é o que permanece na mudança! O resto é o não mesmo e pode ser tudo excepto o mesmo. O mesmo, ao contrário do não mesmo, é único e, como tal, é diferente! O mesmo é contraditório. E também exacto. O que se altera no resto que sobra do mesmo pode alterar-se de todas as maneiras, enquanto o mesmo, para ser o mesmo, tem de ser precisamente o mesmo. A exactidão do mesmo é o que garante que algo como o mesmo possa ser o mesmo porque, para o mesmo, mesmo uma mínima diferença faz toda a diferença. Assim, o mesmo exclui toda e qualquer mudança excepto uma: a mesma mudança. O mesmo é muito exigente quanto à exactidão da mudança. No mesmo, a mudança não muda! O mesmo é cuidadosamente o mesmo! Assim, dizer do mesmo que é o mesmo não é dizer que esse mesmo pode ser uma ou outra coisa: a indiferença é incompatível com a não diferença que faz a diferença do mesmo. O mesmo requer muita atenção. O mesmo é como a velocidade da queda em relação à massa do corpo, ou seja, a mesma. O mesmo não é óbvio! É mesmo misterioso: o mesmo nunca revela nada para além do mesmo. Mas o mesmo não é vazio: é o que é, conciso! Por isso, não associar o mesmo ao tédio: o tédio é um efeito do tempo sobre as expectativas. O mesmo é despojado, o mesmo é o difícil desafio da não expectativa. Por isso, o mesmo é preciso! Mas, por ser difícil, o mesmo não é para qualquer um. Embora também se possa dizer que o mesmo é de cada um já que, sendo precisamente o mesmo, pode o mesmo não ser exactamente o mesmo para todos, porque até o mesmo é relativo. Portanto, em segundo lugar: o mesmo é o mesmo e não é! E sobre o que é o mesmo para cada um não podemos nós senão supor que haja um mesmo susceptível de outro mesmo na consciência de cada um. Existirá, então, um mesmo originário a partir do qual todos os outros mesmos se podem retirar, caso contrário o mesmo seria o mesmo, ponto final!, ou seja, não existiria a questão do mesmo, o que é o mesmo que dizer que o mesmo não seria de todo. Há uma espécie de mesmo que é o uno ideal do mesmo que permite reunir o consenso sobre o que será o mesmo na diversidade dos mesmos possíveis. É por isso que nos entendemos quanto ao mesmo. Então, e porque nos entendemos quanto ao mesmo, concluímos que: 1) o mesmo é o mesmo; 2) o mesmo é o mesmo e não é. ESCLARECIDOS SOBRE O QUE É ISSO A QUE CHAMAMOS O MESMO, PODEMOS AGORA COMEÇAR A FALAR SOBRE O MESMO.
                                                                                                                               loope 2007

 

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